Filha de Temer diz à PF que não teve ajuda do pai para reformar casa
Maristela Temer prestou depoimento à PF em São Paulo nesta quinta-feira (3). Inquérito apura se empresas do setor portuário pagaram propina em troca de um decreto presidencial.
Em depoimento à Polícia Federal, nesta quinta-feira (3), Maristela Temer, uma das filhas do presidente Michel Temer, negou que o pai tenha ajudado a pagar a reforma de sua casa em 2014. A PF apura a origem do dinheiro usado na obra.
O Jornal Nacional teve acesso, com exclusividade, a algumas partes do depoimento, que durou quatro horas e ocorreu numa sala da Polícia Federal, no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Houve um forte esquema de segurança montado pela Presidência da República na região. Maristela entrou e saiu sem ser vista pela imprensa.
A filha de Temer contou ao delegado Cleyber Malta Lopes que pagou a reforma da casa com o dinheiro que ganha como psicóloga, com um empréstimo da mãe, no valor de R$ 100 mil e com dois empréstimos que ela mesma fez no banco. Mas disse que não tem todos os comprovantes dos pagamentos, porque a reforma no imóvel de 350 metros quadrados foi feita há quatro anos.
A investigação faz parte do inquérito que apura se empresas do setor portuário pagaram propina em troca de um decreto presidencial. A PF tenta montar um quebra-cabeça que começou em 2017, quando os delatores da JBS disseram que entregaram R$ 1 milhão de propina ao coronel da PM João Baptista Lima, amigo do presidente Michel Temer há mais de 30 anos. De lá para cá, a suspeita da investigação é que o dinheiro tenha sido usado para reformar a casa de Maristela.
Na quarta-feira (2), a Polícia Federal ouviu o arquiteto Carlos Roberto Pinto. Em junho de 2017, ao Jornal Nacional, ele disse que recebeu R$ 10 mil para dar entrada na prefeitura e cuidar da aprovação do projeto da reforma da casa, e que o pagamento foi feito por transferência bancária pela própria Maristela Temer. Ele também contou que foi contratado pela arquiteta Maria Rita Fratezi, a mulher do coronel Lima.
Na época, outro fornecedor – que não quis gravar entrevista – disse ao Jornal Nacional que pagou para Maria Rita Fratezi R$ 100 mil em dinheiro vivo. Outro fornecedor da obra será ouvido pelo delegado da Polícia Federal na sexta-feira (4).
No depoimento desta quinta, Maristela disse que Maria Rita Fratezi e o coronel Lima nunca foram contratados para fazer a obra nem a empresa deles, a Argeplan.
A filha de Temer reconheceu que, como amiga da família, Maria Rita ajudou a pagar alguns fornecedores e até conseguiu descontos. Foi durante um período de dois anos, em que Maristela morava em Ibiúna, no interior de São Paulo.
Ao ser questionada pelo delegado se Maria Rita Fratezi usou dinheiro indevido sem que ela soubesse, Maristela Temer disse que não acredita nessa possibilidade.
Defesa de Maristela
O advogado de Maristela, Fernando Castelo Branco, afirmou que Maristela prestou todos os esclarecimentos de forma detalhada à PF. “Ela saiu aliviada, por ter sido finalmente chamada pra prestar esses esclarecimentos, que foi durante todo esse tempo submetida a uma execração pública, a uma invasão de sua privacidade, de sua vida íntima, da sua família.”
“O fato de ter demorado as quatro horas é que ela realmente queria falar, gostaria de esclarecer os pontos dessa fatídica e tormentosa reforma por conta de toda essa celeuma que se criou em volta dela, e eu acho que a autoridade policial ficou satisfeita com esses esclarecimentos. Ela foi ouvida na condição de testemunha e continua absolutamente à disposição das autoridades e ratificou isso ao doutor Coelho, dizendo que está inteiramente à disposição pra prestar qualquer esclarecimento, qualquer coisa futura que possa ser necessária.”
Fernando Castelo Branco disse ainda que Maristela nunca precisou de apoio para atividades de subsistência. “Eu sou um extremamente amante do formalismo. Eu acho que, em primeiro lugar, a Maristela é responsável pelos seus atos. Então, ela paga, ela é responsável pela educação da filha, ela é responsável pela manutenção da casa, ela é responsável pela reforma da casa dela, ela nunca precisou de nenhum tipo de apoio pra fazer e executar as atividades dela de subsistência. E tudo isso fruto de seu trabalho, de suas atividades laborais. Todos esses esclarecimentos foram prestados e bem justificados à autoridade policial, com todos os detalhes necessários para essa elucidação.”
Questionado se o dinheiro usado na reforma era de Maristela, o advogado respondeu: “Exatamente.”
Castelo Branco negou que arquiteta Maria Rita Fratezi, o coronel Lima ou a Ageplan tenham sido contratados pela filha de Temer para fazer a obra. “Não houve contratação. A Maria Rita e o coronel Lima são amigos da Maristela de longa data e conhecem ela desde pequena, desde criança. O que houve aí foi a celebração de um auxílio pra Maristela, numa fase de execução da obra, de indicar fornecedores, de eventualmente conseguir algum desconto, alguma situação que pudesse auxiliá-la na execução dessa obra. Foi meramente um auxílio que ela prestou nessa execução. Não teve um papel preponderante a Maria Rita nesta situação.”
Sobre os pagamentos feitos a fornecedores, que citaram o nome de Maria Rita, o advogado disse que “Maristela morava em Ibiúna nessa época, trabalhava o dia inteiro, atendia o dia inteiro, por ser psicóloga e nessa condição, muitas vezes, a Maria Rita se dispôs a efetivamente fazer o contato, fazer uma busca, fazer uma seleção do melhor material, do material que estivesse em promoção, daquele material que pudesse melhor atender. Sempre sem ser um material, de qualidade tipo A. Então, havia realmente uma limitação da Maristela por conta da sua condição financeira. A Maria Rita prestou esse auxílio, sem ser uma especialista nessa área, por carinho à Maristela. Por conhecer a Maristela desde criança. Esse contato, não foram todas as vezes que a Maria Rita celebrou isso, mas em algumas vezes ela fez o contato direto com os fornecedores, sim.”
Questionado se Maristela poderia explicar as suspeitas indicadas na denúncia, relacionadas ao custo da obra e valores recebidos pelo coronel Lima da JBS, o advogado respondeu: “Sim, o fez de uma maneira absolutamente clara e evidente. Acho que, aquilo que eu disse no começo, a autoridade policial, entendo, se deu por satisfeita com os esclarecimentos prestados. Estão todos lá no depoimento e, por amor a esse formalismo, eu gostaria de preservar o depoimento dela para a condução livre, independente da autoridade policial. Eu acho que um vazamento pela imprensa é um desrespeito à presidência dessa autoridade policial, ao Poder Judiciário e ao devido processo legal. Eu acho que o papel da Maristela foi, na condição de testemunha, no qual ela foi convocada, foi intimada pra comparecer, prestar os esclarecimentos à autoridade policial. Ela assim o fez e de uma maneira, repita, absolutamente consistente, absolutamente clara, e acho que deixou o delegado convencido e satisfeito com esse depoimento.”
O advogado foi então perguntado se Maristela recebeu dinheiro do presidente Temer para a reforma da casa. “De forma nenhuma, de forma nenhuma. Os esclarecimentos… É até uma forma de… ela se sente profundamente ofendida com isso. Porque a quantidade de trabalho que ela tem, as pessoas que ela conhece, a vida simples, a forma como ela trabalha, às vezes atendendo 10/12 pacientes por dia. Quer dizer, quem conhece a Maristela sabe da pessoa que nós estamos falando e do valor ético, do valor moral que ela tem, da questão do respeito, a vida que ela oferece à sua própria filha. Então eu acho que é uma violência, uma agressão, um tipo de elucubração nesse sentido.”
Questionado se Maristela tem os recibos da obra, Castelo Branco afirmou que “tá tudo absolutamente detalhado no depoimento dela perante à autoridade policial”, mas que “são documentos difíceis, na sua opinião, de ter justamente pelo tempo, você tava falando que desde 2011”. “Eu imagino que é uma reforma que começou lá em 2011, a casa foi em 2011 e começou logo em seguida. Uns talvez, por razões óbvias sejam, outros, não. Acho que esse esclarecimento, a referência a esses documentos e etc estão no depoimento, então eu acho que isso vai, vai ser um fator de esclarecimento para a autoridade policial.”
Sobre o custo da obra, o advogado afirmou que “isso também ela não tem esse valor fechado… valor exato. Ela tem uma estimativa que também está lá no depoimento dela.” “500, 600 mil?”, questionou a reportagem. “Uma estimativa aproximada, talvez em torno disso”, afirmou a defesa.
Presidente Temer
O presidente Michel Temer, que estava nesta quinta-feira em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, para um evento, quando perguntado pelos jornalistas se o depoimento da filha preocupava, respondeu: “Registre o meu sorriso ”.
O que dizem outros citados
O Palácio do Planalto declarou que a estrutura de segurança se estende aos parentes do presidente e está prevista em decreto e que não comenta detalhes sobre esse assunto.
A defesa de João Baptista Lima Filho e de Maria Rita Fratezi afirmou que eles jamais cometeram irregularidades ou participaram de qualquer ato ilícito.
Filha de Temer diz à PF que não teve ajuda do pai para reformar casa
Maristela Temer prestou depoimento à PF em São Paulo nesta quinta-feira (3). Inquérito apura se empresas do setor portuário pagaram propina em troca de um decreto presidencial.
Filha de Temer depõe à PF sobre dinheiro usado em reforma de casa
Em depoimento à Polícia Federal, nesta quinta-feira (3), Maristela Temer, uma das filhas do presidente Michel Temer, negou que o pai tenha ajudado a pagar a reforma de sua casa em 2014. A PF apura a origem do dinheiro usado na obra.
O Jornal Nacional teve acesso, com exclusividade, a algumas partes do depoimento, que durou quatro horas e ocorreu numa sala da Polícia Federal, no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Houve um forte esquema de segurança montado pela Presidência da República na região. Maristela entrou e saiu sem ser vista pela imprensa.
A filha de Temer contou ao delegado Cleyber Malta Lopes que pagou a reforma da casa com o dinheiro que ganha como psicóloga, com um empréstimo da mãe, no valor de R$ 100 mil e com dois empréstimos que ela mesma fez no banco. Mas disse que não tem todos os comprovantes dos pagamentos, porque a reforma no imóvel de 350 metros quadrados foi feita há quatro anos.
Advogado diz que arquiteta ajudou na obra por carinho à filha de Temer
A investigação faz parte do inquérito que apura se empresas do setor portuário pagaram propina em troca de um decreto presidencial. A PF tenta montar um quebra-cabeça que começou em 2017, quando os delatores da JBS disseram que entregaram R$ 1 milhão de propina ao coronel da PM João Baptista Lima, amigo do presidente Michel Temer há mais de 30 anos. De lá para cá, a suspeita da investigação é que o dinheiro tenha sido usado para reformar a casa de Maristela.
Na quarta-feira (2), a Polícia Federal ouviu o arquiteto Carlos Roberto Pinto. Em junho de 2017, ao Jornal Nacional, ele disse que recebeu R$ 10 mil para dar entrada na prefeitura e cuidar da aprovação do projeto da reforma da casa, e que o pagamento foi feito por transferência bancária pela própria Maristela Temer. Ele também contou que foi contratado pela arquiteta Maria Rita Fratezi, a mulher do coronel Lima.
Na época, outro fornecedor – que não quis gravar entrevista – disse ao Jornal Nacional que pagou para Maria Rita Fratezi R$ 100 mil em dinheiro vivo. Outro fornecedor da obra será ouvido pelo delegado da Polícia Federal na sexta-feira (4).
No depoimento desta quinta, Maristela disse que Maria Rita Fratezi e o coronel Lima nunca foram contratados para fazer a obra nem a empresa deles, a Argeplan.
A filha de Temer reconheceu que, como amiga da família, Maria Rita ajudou a pagar alguns fornecedores e até conseguiu descontos. Foi durante um período de dois anos, em que Maristela morava em Ibiúna, no interior de São Paulo.
Ao ser questionada pelo delegado se Maria Rita Fratezi usou dinheiro indevido sem que ela soubesse, Maristela Temer disse que não acredita nessa possibilidade.
Defesa de Maristela
O advogado de Maristela, Fernando Castelo Branco, afirmou que Maristela prestou todos os esclarecimentos de forma detalhada à PF. “Ela saiu aliviada, por ter sido finalmente chamada pra prestar esses esclarecimentos, que foi durante todo esse tempo submetida a uma execração pública, a uma invasão de sua privacidade, de sua vida íntima, da sua família.”
“O fato de ter demorado as quatro horas é que ela realmente queria falar, gostaria de esclarecer os pontos dessa fatídica e tormentosa reforma por conta de toda essa celeuma que se criou em volta dela, e eu acho que a autoridade policial ficou satisfeita com esses esclarecimentos. Ela foi ouvida na condição de testemunha e continua absolutamente à disposição das autoridades e ratificou isso ao doutor Coelho, dizendo que está inteiramente à disposição pra prestar qualquer esclarecimento, qualquer coisa futura que possa ser necessária.”
Fernando Castelo Branco disse ainda que Maristela nunca precisou de apoio para atividades de subsistência. “Eu sou um extremamente amante do formalismo. Eu acho que, em primeiro lugar, a Maristela é responsável pelos seus atos. Então, ela paga, ela é responsável pela educação da filha, ela é responsável pela manutenção da casa, ela é responsável pela reforma da casa dela, ela nunca precisou de nenhum tipo de apoio pra fazer e executar as atividades dela de subsistência. E tudo isso fruto de seu trabalho, de suas atividades laborais. Todos esses esclarecimentos foram prestados e bem justificados à autoridade policial, com todos os detalhes necessários para essa elucidação.”
Questionado se o dinheiro usado na reforma era de Maristela, o advogado respondeu: “Exatamente.”
Castelo Branco negou que arquiteta Maria Rita Fratezi, o coronel Lima ou a Ageplan tenham sido contratados pela filha de Temer para fazer a obra. “Não houve contratação. A Maria Rita e o coronel Lima são amigos da Maristela de longa data e conhecem ela desde pequena, desde criança. O que houve aí foi a celebração de um auxílio pra Maristela, numa fase de execução da obra, de indicar fornecedores, de eventualmente conseguir algum desconto, alguma situação que pudesse auxiliá-la na execução dessa obra. Foi meramente um auxílio que ela prestou nessa execução. Não teve um papel preponderante a Maria Rita nesta situação.”
Sobre os pagamentos feitos a fornecedores, que citaram o nome de Maria Rita, o advogado disse que “Maristela morava em Ibiúna nessa época, trabalhava o dia inteiro, atendia o dia inteiro, por ser psicóloga e nessa condição, muitas vezes, a Maria Rita se dispôs a efetivamente fazer o contato, fazer uma busca, fazer uma seleção do melhor material, do material que estivesse em promoção, daquele material que pudesse melhor atender. Sempre sem ser um material, de qualidade tipo A. Então, havia realmente uma limitação da Maristela por conta da sua condição financeira. A Maria Rita prestou esse auxílio, sem ser uma especialista nessa área, por carinho à Maristela. Por conhecer a Maristela desde criança. Esse contato, não foram todas as vezes que a Maria Rita celebrou isso, mas em algumas vezes ela fez o contato direto com os fornecedores, sim.”
Questionado se Maristela poderia explicar as suspeitas indicadas na denúncia, relacionadas ao custo da obra e valores recebidos pelo coronel Lima da JBS, o advogado respondeu: “Sim, o fez de uma maneira absolutamente clara e evidente. Acho que, aquilo que eu disse no começo, a autoridade policial, entendo, se deu por satisfeita com os esclarecimentos prestados. Estão todos lá no depoimento e, por amor a esse formalismo, eu gostaria de preservar o depoimento dela para a condução livre, independente da autoridade policial. Eu acho que um vazamento pela imprensa é um desrespeito à presidência dessa autoridade policial, ao Poder Judiciário e ao devido processo legal. Eu acho que o papel da Maristela foi, na condição de testemunha, no qual ela foi convocada, foi intimada pra comparecer, prestar os esclarecimentos à autoridade policial. Ela assim o fez e de uma maneira, repita, absolutamente consistente, absolutamente clara, e acho que deixou o delegado convencido e satisfeito com esse depoimento.”
O advogado foi então perguntado se Maristela recebeu dinheiro do presidente Temer para a reforma da casa. “De forma nenhuma, de forma nenhuma. Os esclarecimentos… É até uma forma de… ela se sente profundamente ofendida com isso. Porque a quantidade de trabalho que ela tem, as pessoas que ela conhece, a vida simples, a forma como ela trabalha, às vezes atendendo 10/12 pacientes por dia. Quer dizer, quem conhece a Maristela sabe da pessoa que nós estamos falando e do valor ético, do valor moral que ela tem, da questão do respeito, a vida que ela oferece à sua própria filha. Então eu acho que é uma violência, uma agressão, um tipo de elucubração nesse sentido.”
Questionado se Maristela tem os recibos da obra, Castelo Branco afirmou que “tá tudo absolutamente detalhado no depoimento dela perante à autoridade policial”, mas que “são documentos difíceis, na sua opinião, de ter justamente pelo tempo, você tava falando que desde 2011”. “Eu imagino que é uma reforma que começou lá em 2011, a casa foi em 2011 e começou logo em seguida. Uns talvez, por razões óbvias sejam, outros, não. Acho que esse esclarecimento, a referência a esses documentos e etc estão no depoimento, então eu acho que isso vai, vai ser um fator de esclarecimento para a autoridade policial.”
Sobre o custo da obra, o advogado afirmou que “isso também ela não tem esse valor fechado… valor exato. Ela tem uma estimativa que também está lá no depoimento dela.” “500, 600 mil?”, questionou a reportagem. “Uma estimativa aproximada, talvez em torno disso”, afirmou a defesa.
Presidente Temer
O presidente Michel Temer, que estava nesta quinta-feira em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, para um evento, quando perguntado pelos jornalistas se o depoimento da filha preocupava, respondeu: “Registre o meu sorriso ”.
O que dizem outros citados
O Palácio do Planalto declarou que a estrutura de segurança se estende aos parentes do presidente e está prevista em decreto e que não comenta detalhes sobre esse assunto.
A defesa de João Baptista Lima Filho e de Maria Rita Fratezi afirmou que eles jamais cometeram irregularidades ou participaram de qualquer ato ilícito.
Filha de Temer diz à PF que não teve ajuda do pai para reformar casa
Maristela Temer prestou depoimento à PF em São Paulo nesta quinta-feira (3). Inquérito apura se empresas do setor portuário pagaram propina em troca de um decreto presidencial.
Filha de Temer depõe à PF sobre dinheiro usado em reforma de casa
Em depoimento à Polícia Federal, nesta quinta-feira (3), Maristela Temer, uma das filhas do presidente Michel Temer, negou que o pai tenha ajudado a pagar a reforma de sua casa em 2014. A PF apura a origem do dinheiro usado na obra.
O Jornal Nacional teve acesso, com exclusividade, a algumas partes do depoimento, que durou quatro horas e ocorreu numa sala da Polícia Federal, no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Houve um forte esquema de segurança montado pela Presidência da República na região. Maristela entrou e saiu sem ser vista pela imprensa.
A filha de Temer contou ao delegado Cleyber Malta Lopes que pagou a reforma da casa com o dinheiro que ganha como psicóloga, com um empréstimo da mãe, no valor de R$ 100 mil e com dois empréstimos que ela mesma fez no banco. Mas disse que não tem todos os comprovantes dos pagamentos, porque a reforma no imóvel de 350 metros quadrados foi feita há quatro anos.
Advogado diz que arquiteta ajudou na obra por carinho à filha de Temer
A investigação faz parte do inquérito que apura se empresas do setor portuário pagaram propina em troca de um decreto presidencial. A PF tenta montar um quebra-cabeça que começou em 2017, quando os delatores da JBS disseram que entregaram R$ 1 milhão de propina ao coronel da PM João Baptista Lima, amigo do presidente Michel Temer há mais de 30 anos. De lá para cá, a suspeita da investigação é que o dinheiro tenha sido usado para reformar a casa de Maristela.
Na quarta-feira (2), a Polícia Federal ouviu o arquiteto Carlos Roberto Pinto. Em junho de 2017, ao Jornal Nacional, ele disse que recebeu R$ 10 mil para dar entrada na prefeitura e cuidar da aprovação do projeto da reforma da casa, e que o pagamento foi feito por transferência bancária pela própria Maristela Temer. Ele também contou que foi contratado pela arquiteta Maria Rita Fratezi, a mulher do coronel Lima.
Na época, outro fornecedor – que não quis gravar entrevista – disse ao Jornal Nacional que pagou para Maria Rita Fratezi R$ 100 mil em dinheiro vivo. Outro fornecedor da obra será ouvido pelo delegado da Polícia Federal na sexta-feira (4).
No depoimento desta quinta, Maristela disse que Maria Rita Fratezi e o coronel Lima nunca foram contratados para fazer a obra nem a empresa deles, a Argeplan.
A filha de Temer reconheceu que, como amiga da família, Maria Rita ajudou a pagar alguns fornecedores e até conseguiu descontos. Foi durante um período de dois anos, em que Maristela morava em Ibiúna, no interior de São Paulo.
Ao ser questionada pelo delegado se Maria Rita Fratezi usou dinheiro indevido sem que ela soubesse, Maristela Temer disse que não acredita nessa possibilidade.
Defesa de Maristela
O advogado de Maristela, Fernando Castelo Branco, afirmou que Maristela prestou todos os esclarecimentos de forma detalhada à PF. “Ela saiu aliviada, por ter sido finalmente chamada pra prestar esses esclarecimentos, que foi durante todo esse tempo submetida a uma execração pública, a uma invasão de sua privacidade, de sua vida íntima, da sua família.”
“O fato de ter demorado as quatro horas é que ela realmente queria falar, gostaria de esclarecer os pontos dessa fatídica e tormentosa reforma por conta de toda essa celeuma que se criou em volta dela, e eu acho que a autoridade policial ficou satisfeita com esses esclarecimentos. Ela foi ouvida na condição de testemunha e continua absolutamente à disposição das autoridades e ratificou isso ao doutor Coelho, dizendo que está inteiramente à disposição pra prestar qualquer esclarecimento, qualquer coisa futura que possa ser necessária.”
Fernando Castelo Branco disse ainda que Maristela nunca precisou de apoio para atividades de subsistência. “Eu sou um extremamente amante do formalismo. Eu acho que, em primeiro lugar, a Maristela é responsável pelos seus atos. Então, ela paga, ela é responsável pela educação da filha, ela é responsável pela manutenção da casa, ela é responsável pela reforma da casa dela, ela nunca precisou de nenhum tipo de apoio pra fazer e executar as atividades dela de subsistência. E tudo isso fruto de seu trabalho, de suas atividades laborais. Todos esses esclarecimentos foram prestados e bem justificados à autoridade policial, com todos os detalhes necessários para essa elucidação.”
Questionado se o dinheiro usado na reforma era de Maristela, o advogado respondeu: “Exatamente.”
Castelo Branco negou que arquiteta Maria Rita Fratezi, o coronel Lima ou a Ageplan tenham sido contratados pela filha de Temer para fazer a obra. “Não houve contratação. A Maria Rita e o coronel Lima são amigos da Maristela de longa data e conhecem ela desde pequena, desde criança. O que houve aí foi a celebração de um auxílio pra Maristela, numa fase de execução da obra, de indicar fornecedores, de eventualmente conseguir algum desconto, alguma situação que pudesse auxiliá-la na execução dessa obra. Foi meramente um auxílio que ela prestou nessa execução. Não teve um papel preponderante a Maria Rita nesta situação.”
Sobre os pagamentos feitos a fornecedores, que citaram o nome de Maria Rita, o advogado disse que “Maristela morava em Ibiúna nessa época, trabalhava o dia inteiro, atendia o dia inteiro, por ser psicóloga e nessa condição, muitas vezes, a Maria Rita se dispôs a efetivamente fazer o contato, fazer uma busca, fazer uma seleção do melhor material, do material que estivesse em promoção, daquele material que pudesse melhor atender. Sempre sem ser um material, de qualidade tipo A. Então, havia realmente uma limitação da Maristela por conta da sua condição financeira. A Maria Rita prestou esse auxílio, sem ser uma especialista nessa área, por carinho à Maristela. Por conhecer a Maristela desde criança. Esse contato, não foram todas as vezes que a Maria Rita celebrou isso, mas em algumas vezes ela fez o contato direto com os fornecedores, sim.”
Questionado se Maristela poderia explicar as suspeitas indicadas na denúncia, relacionadas ao custo da obra e valores recebidos pelo coronel Lima da JBS, o advogado respondeu: “Sim, o fez de uma maneira absolutamente clara e evidente. Acho que, aquilo que eu disse no começo, a autoridade policial, entendo, se deu por satisfeita com os esclarecimentos prestados. Estão todos lá no depoimento e, por amor a esse formalismo, eu gostaria de preservar o depoimento dela para a condução livre, independente da autoridade policial. Eu acho que um vazamento pela imprensa é um desrespeito à presidência dessa autoridade policial, ao Poder Judiciário e ao devido processo legal. Eu acho que o papel da Maristela foi, na condição de testemunha, no qual ela foi convocada, foi intimada pra comparecer, prestar os esclarecimentos à autoridade policial. Ela assim o fez e de uma maneira, repita, absolutamente consistente, absolutamente clara, e acho que deixou o delegado convencido e satisfeito com esse depoimento.”
O advogado foi então perguntado se Maristela recebeu dinheiro do presidente Temer para a reforma da casa. “De forma nenhuma, de forma nenhuma. Os esclarecimentos… É até uma forma de… ela se sente profundamente ofendida com isso. Porque a quantidade de trabalho que ela tem, as pessoas que ela conhece, a vida simples, a forma como ela trabalha, às vezes atendendo 10/12 pacientes por dia. Quer dizer, quem conhece a Maristela sabe da pessoa que nós estamos falando e do valor ético, do valor moral que ela tem, da questão do respeito, a vida que ela oferece à sua própria filha. Então eu acho que é uma violência, uma agressão, um tipo de elucubração nesse sentido.”
Questionado se Maristela tem os recibos da obra, Castelo Branco afirmou que “tá tudo absolutamente detalhado no depoimento dela perante à autoridade policial”, mas que “são documentos difíceis, na sua opinião, de ter justamente pelo tempo, você tava falando que desde 2011”. “Eu imagino que é uma reforma que começou lá em 2011, a casa foi em 2011 e começou logo em seguida. Uns talvez, por razões óbvias sejam, outros, não. Acho que esse esclarecimento, a referência a esses documentos e etc estão no depoimento, então eu acho que isso vai, vai ser um fator de esclarecimento para a autoridade policial.”
Sobre o custo da obra, o advogado afirmou que “isso também ela não tem esse valor fechado… valor exato. Ela tem uma estimativa que também está lá no depoimento dela.” “500, 600 mil?”, questionou a reportagem. “Uma estimativa aproximada, talvez em torno disso”, afirmou a defesa.
Presidente Temer
O presidente Michel Temer, que estava nesta quinta-feira em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, para um evento, quando perguntado pelos jornalistas se o depoimento da filha preocupava, respondeu: “Registre o meu sorriso ”.
O que dizem outros citados
O Palácio do Planalto declarou que a estrutura de segurança se estende aos parentes do presidente e está prevista em decreto e que não comenta detalhes sobre esse assunto.
A defesa de João Baptista Lima Filho e de Maria Rita Fratezi afirmou que eles jamais cometeram irregularidades ou participaram de qualquer ato ilícito.
Advogado criminal há mais de 30 anos, é sócio do Castelo Branco Advogados Associados, Mestre e Doutorando em Direito Processual Penal pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).