Petista quer confirmação de advogados de que, ao usar o instrumento conhecido como ‘detração’, não estará abrindo mão de continuar a defender sua inocência

Da Redação – VEJA

Publicado em 3 maio 2019

 

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, em entrevista ao blog do jornalista Kennedy Alencar, que aceitará apresentar um pedido de detração para obter a progressão de regime e deixar a cela especial que ocupa na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. “Eu quero ir para casa”, afirmou o petista.

O Brasil tem falta de vagas no semiaberto, regime em que o preso retorna à noite ao local de cumprimento de pena após trabalhar durante o dia. Quando não há vagas, o preso vai direto para o regime aberto, que demanda apenas recolhimento noturno em casa.

Pelo instrumento da detração, o preso pede à Justiça que abata do total da pena o período que passou preso provisoriamente. Lula foi condenado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) a oito anos e dez meses de prisão. Como cumpre pena provisória há um ano, se um pedido do tipo fosse aceito, a punição restante passaria a ser inferior a oito anos de prisão, o que o coloca imediatamente no regime semiaberto.

Na entrevista, Lula ponderou, no entanto, que quer uma confirmação dos seus advogados, Cristiano Zanin Martins e José Roberto Batochio, de que pedir a detração não o impedirá de continuar brigando, com recurso ao Supremo Tribunal Federal (STF), para provar a sua inocência no caso.

“Olha, eu só pedirei [detração] no dia em que meus advogados, o Cristiano e o Batochio, disserem para mim ‘Presidente Lula, o senhor pode pedir, que, se o senhor pedir, o senhor pode continuar a sua briga pela sua inocência”, afirmou. “Se eu tiver que abrir mão de continuar a briga pela minha defesa, eu não tenho nenhum problema de ficar aqui.”

Após a divulgação da entrevista, a defesa do ex-presidente Lula veiculou nota em que afirma que “todos os direitos decorrentes” da redução de pena do petista, o que inclui a detração e a própria progressão após cumprimento de um sexto da pena, serão pedidos. “O STJ reconheceu o abuso das penas aplicadas a Lula pelo ex-juiz Sergio Moro e pelo TRF4”, afirmaram os advogados, que reiteraram que continuarão buscando obter a absolvição.

Recursos

Para o criminalista Fernando Castelo Branco, professor de pós-graduação em direito penal da Escola do Brasil (EDB), a lógica para se pensar em uma eventual detração é clara no caso de Lula. No entanto, o problema é que, se Lula ainda pode ser absolvido pelo STF, também é verdade que a Corte pode optar por ampliar a sua pena.

“O processo de Lula não acabou. Assim como ele recorre, o Ministério Público também deve pedir um aumento da pena. Por isso, a Justiça de Execuções pode alegar que, já que a pena não é definitiva, não é possível afirmar que, ao final do processo, ele ainda manterá o direito à detração. É uma insegurança jurídica provocada pela execução provisória [da sentença]“, argumentou.

Caso a juíza Carolina Moura Lebbos, que tem adotado um perfil rígido no acompanhamento da pena do ex-presidente, decida não conceder a detração, o ex-presidente ainda poderá insistir no pedido às instâncias superiores: o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), o STJ e o STF.